5 de maio de 2018

Maruim 164 anos: Onde está sua luz? | Por Lohan Muller

O melhor guardião desta terra, Joel Aguiar, já profetizava: "Se o destino nos levar a triste situação de um lugarejo, onde não se ouve o ruído do Progresso e a harmonia da Justiça, forçando-nos a olharmos entristecidos para as quietas águas do Ganhamoroba, esta cidade não morrerá de todo, porque um Farol brilhará sempre à vista de quem aqui pisar..."


A exatos 91 anos, o discurso feito pelo intelectual maruinense no cinquentenário do Gabinete de Leitura de Maruim, nunca foi tão atual. Maruim, ao completar 164 anos de Emancipação Política, submerge em meio a um declínio não somente político, social e cultural, mas moral. Com direitos básicos negados, submissão entre poderes, ausência da justiça, do respeito e da igualdade. 

Os maruinenses tem sobrevivido aos desmandos de uma família real dos dias atuais, que tem se perpetuado através da miserabilidade alheia. E, isto ficou claro na reeleição histórica - porém desastrosa, foi através da condição do seu povo, do vício, da "ignorância", das propostas de cargos fantasiosos, do nepotismo escancarado para execução de crimes, que a vitória chegou. Assim como o abandono do seu povo consequentemente, que continua superlotando a saúde, em busca de atendimento digno e remédios. Que são enganados e desrespeitados quando mais necessitam de um transporte público, e ele está sendo usado para benefício próprio em shoppings e apartamentos de luxo. Que lutam por moradias prometidas há anos, mas que não saíram até hoje do papel, assim como as inúmeras obras, sem contar as abandonadas. Que lutam por uma educação de qualidade e alimentação digna para seus filhos, quando são servidas comidas estragadas nas escolas. Que lutam quando os ônibus escolares e rurais estão superlotados, colocando em risco à vida dos usuários. Que lutam por uma cidade mais segura, mais justa e com todos os seus direitos assegurados pela Constituição que rege este país. 

Mas, Maruim, onde está sua luz? 

Percorro suas ruas, becos, vielas e não consigo achá-la. Só encontro tristeza no olhar do seu povo tão sofrido e menos favorecido que acorda cedo para labutar, no seu rio, no mar ou em suas terra férteis. Encontro agonia por seu regresso, indignação ao te ver estacionada, sem oportunidades de trabalho, de futuro, de vida. É revoltante te ver tão grandiosa, mas inferiorizada. Do alto, te vejo imponente. Quando fecho os olhos te vejo menina, a sua história me faz sonhar e te imaginar no tempo próspero. Desço e te vejo no rio - o protagonista do seus 164 anos, como um passe de mágica vejo Saveiros e Sumacas exportando suas riquezas, te fazendo universal. Nos casarões e solares que ainda restam, imagino estrangeiros de toda parte do mundo se rendendo a sua realeza. Quando entro no Templo do Saber, o Gabinete de Leitura, vejo que ali está a esperança. O Farol que o saudoso Joel, que tanto admiro, se retrata. O Farol é o Gabinete e a luz que ele difunde estão nos livros. E, como já dizia seu melhor guardião, somente o conhecimento vai nos libertar da ignorância, da maldição que estamos condicionados pela família real maruinense deslegitimada. 

Porque esta "Luz tem a energia de fazer o homem conhecer a intimidade da Natureza: ora estudando o organismo humano, procurando aliviar seu padecimentos pelos recursos da Medicina, ciência que nos encanta e maravilha; ora encurtando distâncias, singrando oceanos, cortando ares, erguendo palácios, desvendando segredos astronômicos, fertilizando campos, abatendo florestas, demolindo montes, tudo isso por intermédio da Engenharia - ciência que nos deslumbra e fascina, ora procurando meios de implantar a igualdade entre os cidadãos, garantir lares, fortificar a liberdade, respeitar nossas ideias, zelar nossos interesses, guardar nossas famílias, graças ao Direito - ciência divina que Jesus Cristo pregou na terra, quando doutrinou: "Dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". 

Luz que tem o poder de evitar misérias do crime, as loucuras do sensualismo  e as exaltações dos prazeres. Luz que tem o calor para queimar as injustas opiniões dos homens descrentes, eclipsar as negras projeções da ignorância e apagar as palavras sombrias dos incautos. Luz que tem arma para derrubar tronos arbitrários, derrocar governos prepotentes, demolir agremiações anarquistas. Luz que possui alavanca de remover discórdias, rechaçar violências e amortalhar as culpas do ferro. Luz que, finalmente, faz o Homem o encanto da Natureza como a Mulher é o encanto do Homem". 


Trecho do livro Traços da História de Maroim | Joel Aguiar, 21 de Agosto de 1927  



| Lohan Muller é Bacharel em Jornalismo. Repórter, Apresentador, Mestre de Cerimônias, que há 5 anos escreve para o Blog Maruim em Pauta informações do cotidiano, denúncias e curiosidades da cidade que tanto colaborou para o desenvolvimento de Sergipe.|

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