4 de setembro de 2018

Da Memória, da Culpa, das Desculpas e do Óbito | Por Hefraim Andrade

Temos, no mesmo solo, levas de museus. Alguns, nasceram a pouco tempo, como é o caso do Museu da Gente Sergipana (2011), granças ao Instituto Banese, em parceria com o Governo do Estado, e outros, há duzentos anos, como o Museu Nacional do Rio de Janeiro, antigo Paço Real, abrigo de peças inestimáveis para a humanidade, importante para Sergipe e para muitos maruinenses, que podem ter perdido importantes peças (fósseis) e sabe-se o que mais, no seu incêndio; caso que fez com que elaborasse o título acima aqui enfatizado – Das memórias, da Culpa, das Desculpas e do Óbito – Esta foi a forma que encontrei para canalizar a raiva, a tristeza e a indignação que sinto. 

Museu Nacional arde em chamas no RJ | Hora do Povo 

Nós temos, no Rio de Janeiro, outro museu, o do Amanhã. Um de muitos espaços cada vez mais modernos e sustentáveis, que reflete a nossa realidade e que atrai públicos diversos, que dá um verdadeiro show artístico e arquitetônico. Entretanto, não mais temos o Museu do Ontem, este, o da velha Quinta, o qual ardeu em labaredas tão violentas, que fizeram com que nossos olhos recusaram-se a fechar e nosso corpo, pela sensação de impotência, quedasse mórbido pelo sentimento adolescente de ter perdido a sua amada ou quiçá pelo mesmo sentimento do escritor português Tomaz Antônio Gonzaga (1744-1810), quando em seu exílio em Moçambique, lamentava a falta de Marília:

<<Chegou-se o dia mais triste
Que o dia da morte fea;
Caí do trono, Dircéia,
Do trono dos braços teus.
Ah!, não posso, não, não posso,
Dizer-te, meu bem, adeus!>>

Escrevo, cá, com muito mal estar, porque, a final, não sei se a culpabilidade disso é do povo ou do poder público instituído, cuja a ausência e descaso, ocasionou e ainda ocasiona não poucos problemas. Paralelamente, sempre odiei às desculpas que muitos cínicos, em diversos setores, costumam dar, a saber, << Não há nada de errado aqui ou acolá!>> ou << Estamos trabalhando nisso>>. - Trabalhando até que um prédio público, museu, instituição, venha a baixo, ou que seja corroída (o) por cupins ou que pegue fogo, fazendo, como consequência, com que as máscaras e as cortinas ilusórias de muitos, caiam. E, tal como nos contos fantásticos, onde à meia-noite, finda-se o encanto, vemos às roupas sujas de cinderelas; a realidade dos fatos; as falhas; os cânceres que sempre forçaram, a parte consciente da população, a fazer quimioterapias incômodas e doloridas; a nudez, como um pênis e uma vagina expostos, sem que haja um lençol si quer para ocultá-los! Com infelicidade, não pudemos evitar, das nossas salas de estar, que as chamas se espalhassem, no dia 02 de setembro, inda que tivéssemos o desejo intenso de fazê-lo. Conforme disse a princípio, os nossos olhos ficaram imóveis e nosso corpo, abatido. Estavam, eles, chorosos com a dor do óbito e do luto; certos de que a alma não voltaria ao seu velho corpo; que vários choques elétricos não ajudariam em nada…

Agora, do imponente Palácio, só restam as cinzas e as paredes mais fortes, que ficaram de pé, e os textos e publicações, divididos entre os programas audiovisuais; o Whatsapp; o Facebook; o Twitter e o Instagram. E tantos outros prédios Federais, Estaduais e Municipais, que estão entregues ao Fenômeno Brasil, que é mais assolador e devastador do que os terremotos e tornados, porque não destrói apenas matéria, mas à história, à ética, o bom senso… Brasileiros! Pensemos bem, se não é essa a deixa para fazermos uma revolução e mudarmos nossa realidade ou de arrependermo-nos amargamente, dos erros cometidos nas urnas eleitorais, dizendo para nós mesmos: Mea culpa, mea-culpa, mea maxima culpa!1.

- Até a próxima.

Nota:

Parte extraída da oração confiteor, em Latim.

Fontes pesquisadas:






| Hefraim V. Andrade nasceu em Aracaju em 1991, membro duma família oriunda da cidade de Riachuelo - SE e de origem judaico-sefardí, que mudara-se para Maruim nos anos 70. É ativista em defesa de Israel e dos Direitos Humanos Universais. Ocupa a cadeira de número dois da Academia Maruinense de Letras e Artes - AMLA. Também Faz parte do Cumbuka Coletivo Cultural, - Grupo apartidário que vem promovendo eventos socioculturas  e de incentivo à sustentabilidade no Município.  Quanto a sua vida na escrita, ela começa na sua infância e passa por sua adolescência e juventude, quando fez parte de eventos de caráter poético e estende-se até os dias atuas indo da sátira ao que se pode entender, por ele mesmo por "formal". |


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