25 de setembro de 2018

As Novas Caras de um Governo Familiar | Por Hefraim Andrade


No próximo mês, boa parte dos brasileiros, dentre os quais destaco os maruinenses, votarão naqueles que os representarão no governo do país. Entretanto, o que talvez ignoram, é que muitos desses representantes que haverão de eleger, podem ser descendentes de uma linhagem de políticos que insiste em perpetuar-se no poder. São eles, as novas faces de uma tradição, que infelizmente é tolerada, sabe-se lá o porquê, por uma grande maioria. 

Foto | Blog Ivanildo Souza 

A prática da transferência do poder é muito antiga nesse mundo, e no que refere-se ao Brasil, iniciou-se com a implantação das Capitanias Hereditárias – uma forma de administração do território colonial português na América – faixas de terra divididas entre integrantes da baixa nobreza portuguesa e passadas de forma hereditária. Vale salientar que estes “donatários”, como eram chamados, controlavam basicamente tudo: a escravização dos nativos, a aplicação da justiça, penas e o recolhimento dos impostos. Além de que, lucravam com isso.

No Brasil dos dias atuais, dando ênfase ao Nordeste, não é nada incomum ver, de modo contínuo, sobrenomes repetindo-se campanha após campanha ao decorrer dos anos – Joãozinho da Caçanha, Ricardo da Caçanha, Andréa da Caçanha… Ou ainda: Pedro de Joãozinho (que teve carreira política), Jorge filho de Carlos, - Todos políticos. Dando-nos a entender que ocupar um cargo público virou um costume e pior, uma indiscreta espécie de monarquia dentro de uma república?

Segundo uma publicação do O Globo, de setembro de 2012, das 26 Câmaras de capitais pesquisadas, somente Palmas não tinha um parente político na legislatura que estava terminando. Também, segundo o que escreveu o jornalista Edson Sardinha, do Congressoemfoco, em agosto de 2017, os deputados com parentes na política eram maioria em 21 bancadas, e que, os maiores partidos, PSD (78%), o PTB (76%), o PDT (74%), o PMDB (70%), foram os que mais reproduziram a prática nessa legislatura. No entanto, o que mais surpreende é um caso incrível que teve ênfase na sequência da publicação, a de que, em Minas Gerais, houve o maior caso de longevidade familiar de que se tem notícia no Parlamento de um país democrático. Segundo o emissor da notícia, o deputado Bonifácio de Andrada (87 anos), que está em seu décimo mandato, representa a quinta geração de um clã que começou a trajetória parlamentar em 1821, ainda nas Cortes Portuguesas, em Lisboa. Ou seja, vem duma família que está no poder há exatos 196 anos.

É surpreendente como um costume rechaçado por alguns, porém, inegavelmente consentido, já que esses homens e mulheres foram e são eleitos por voto popular, prosperou e ainda prospera tanto. Se é por ignorância, medo ou quiçá por conveniência que a grande parte de nossa pátria aceita isso, resta a dúvida. Contudo, enquanto não houver um posicionamento firme e disposto a enfrentá-lo, viveremos sem mudanças. Habitaremos às sombras de modernas Capitanias Hereditárias, onde a elaboração das leis, a aplicação da justiça, a saúde, a educação, a cultura, o esporte, entre outros, serão administrados e encabeçados somente por um grupo, não restando espaço para pessoas e partidos novos, para novas propostas.

Assim, caso não tenhamos essa consciência na hora em que estivermos diante das urnas, momento decisivo que definirá aqueles que gerenciarão o governo nos próximos anos, estaremos fadados, mais uma vez, a um círculo vicioso, de poucos, que, como disse a princípio, é tolerado, sabe-se lá o porquê, por uma grande maioria.

- Até semana que vem.


| Hefraim Andrade nasceu em Aracaju em 1991, membro duma família oriunda da cidade de Riachuelo - SE e de origem judaico-sefardí, que mudara-se para Maruim nos anos 70. É ativista em defesa de Israel e dos Direitos Humanos Universais. Ocupa a cadeira de número dois da Academia Maruinense de Letras e Artes - AMLA. Também Faz parte do Cumbuka Coletivo Cultural, - Grupo apartidário que vem promovendo eventos socioculturas  e de incentivo à sustentabilidade no município.  Quanto a sua vida na escrita, ela começa na sua infância e passa por sua adolescência e juventude, quando fez parte de eventos de caráter poético e estende-se até os dias atuas indo da sátira ao que se pode entender, por ele mesmo por "formal". | 




Fontes pesquisadas:






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