10 de julho de 2018

As Famas de Maruim | Por Hefraim Andrade

Olá, leitores. Esta terça-feira aparenta ser promissora. O que será que ela ainda reserva para nós?! Quanto a mim, estou cheio de expectativas por conta das atualizações do Blog Maruim em Pauta, que começou, ontem, a pôr chamadas gravadas pelos colunistas nos Stories do Instagram e do Facebook. Particularmente achei uma ideia ótima.

Programa Musical: Fama | Fonte: Rede Globo
Pessoal, a temática desta semana gira em torno da Fama, e especificamente da fama de nossa cidade; a fama inicial, que há de nos remeter aos nossos alicerces; a fama levantada pelos historiadores e pesquisadores, que teve como objetivo, revivê-la e dar-nos uma ideia sobre aquele período; da fama testemunhada e difundida pela população em si, até porque a história não é só feita e registrada pelos diplomados, gostem eles ou não. Haveremos de discorrer sobre a nossa fama atual e sobre seus desdobramentos e finalmente sobre o poder que temos para fazermos a nossa própria.

Fama. Esta palavra tem origem no vocábulo grego antigo, Pheme, <<notícia>>, a qual não deixa claro se o objeto, animal ou pessoa é bom ou ruim, apenas denota que algo ou alguém é muito noticiado. Nas mitologias Grega e Romana, Fama é uma deusa, personificação de profundos e misteriosos conhecimentos. Segundo algumas fontes, era filha de Titã e Géia; irmã de Encélado e de Caos, e também mensageira de Júpiter. A deusa apresenta-se alada e com cara de louca, que voa a frente do seu cortejo, disseminando mentiras e verdades através das suas 100 bocas. Há também quem sustente que nascera para divulgar os crimes dos deuses que mataram os gigantes. - Precisamos compreender isso para entendermos a profundidade que há nessa palavra, posto que <<fama>>  é o que a cidade de Maruim, que fica apenas a 30 km da capital do Estado, possuiu e possui dentro e fora do país.

No passado, graças à agricultura, chamou a atenção de não poucos comerciantes/ investidores. Foram africanos, judeus, Ingleses, franceses, alemães, portugueses, espanhóis e até um suíço, Eduardo Perret, que era um padeiro diferenciado naquilo que fazia. -Caiamos na real! Maruim era famosinha do Insta daquele tempo ou não atrairia Suas Saudosas Majestades Imperiais, Dom Pedro II e Dona Tereza Cristina de Bourbon-Duas Sicílias. Porém, de modo algum posso me furtar a expor, que paralelamente, Maruim caiu nas críticas tecidas por Dom Pedro II e por uma certa alemã (Adolphine Schramm), queixosa e saudosa de sua Freie und Hansestadt Hamburg, em cartas que para lá foram direcionadas. 

Algum tempo depois de todo esse apogeu e notoriedade, surgiria um homem ímpar, este o dr. Joel Macieira Aguiar, que a seu tempo, se esforçou para registrar aquilo que mais tarde acabaria tornando-se, na minha opinião, a História Oficial do Município, que receberia mais ênfase, nos trabalhos de pesquisadores e historiadores como Maria Lúcia Marques Cruz e Silva, Dênio Azevedo e outros. Pessoas cujas contribuições ajudaram a ressuscitar termos como <<Terra propagadora das Luzes>>, - nosso velho título. Não obstante, há na contemporaneidade, figuras como o sr. Dilton ou Barbudo do queijo, um comerciante; dona Sônia Maynart, professora aposentada e o sr. Manoel Teles, ou Manoel da Carne, cidadãos simples, cuja memória, muitas vezes ajudaram-me a reconstruir cenários e a saber sobre acontecimentos que não estão presentes nos livros.  

Clímene, deusa da Fama e do Renome | Foto: Blog Mundo das Lendas Gregas
Mas falando em contemporaneidade… Como está a nossa fama? Primeiramente eu devo dizer, como morador parcial deste lugar, que estamos vivendo nalgum tipo de Renascença. Digamos que o movimento plurilateral que ocorreu na Europa, entre os séculos XV e XVI está, de certa forma, chegando aos poucos, aqui. Muitas pessoas, principalmente jovens, estão a converter-se em questionadores natos, tendo como seu jardim de Akademus, as praças, as universidades e faculdades, além dos meios de comunicação e redes sociais. Mas como em todo e bom Renascimento, há as problemáticas, a fama da Maruim contemporânea não é das melhores. Estamos vivendo num cenário absurdo e que pode ser percebido através das péssimas notícias, que pela constância, nos entristecem e mancham-nos nos cenários brasileiro e internacional. No ano passado, por exemplo, um morador de El Salvador, na América Central, em resposta indignada ao terrível costume de se velar os mortos no Gabinete de Leitura, uma biblioteca pública que possui um acervo centenário, escreveu-me: <<es una profanación que lo hacen...>> Em português, este meu amigo, disse que a dita ação é uma profanação. Este não é o único problema: Somos ultrajados constantemente com o caos na saúde pública, na segurança, na educação (do povo), etc. A ironia é que na mitologia greco-romana, Caos é irmão da Fama… 

Não sei ao certo quantos dentro de Maruim, a minha semelhança, não suportam mais ter o seguinte questionamento à mente: Qual será o novo descaso ou ainda a próxima denúncia a aparecer? Bem. Temos conosco uma marreta e por que não demolimos esse muro?! Temos soltas as nossas correntes e não entendo o motivo pelo qual não deixamos a prisão. Esta cidade está nas nossas mãos e temos todo o poder para transformar a nossa realidade e nome. Entretanto, enquanto muitos aqui e no Brasil, amarem mais aos R$ 70,00 – Que como é dito, é mais ou menos a cotação da corrupção, como também aos privilégios ou a promessa de um cargo de confiança, - ações notadamente sórdidas e criminosas, nunca sairemos desse círculo vicioso.

Para concluir, tal como vimos no decorrer desta exposição, a Fama resume o conjunto das opiniões sobre algo ou alguém, e através da mitologia, pudemos entender mais profundamente o seu significado. A Fama nos precedeu e surpreendeu nos primórdios e exalou o cheiro de açúcar e consequentemente o da riqueza. Atraiu e despertou homens letrados ou não, para que registrassem-na nos livros e mesmo para que ela fosse perpetuada. Espero que muitos acordem a tempo para mudarem seu tempo. 

-Qual é a tua fama?

Fontes Bibliográficas:

AGUIAR, Joel. Traços da História de Maruim. Segunda Edição. Aracaju. 2004.

SILVA, Maria Lúcia Marques Cruz e. REVISTA LITTERARIA DO GABINETE DE LEITURA DE MAROIM (1890-1891): subsídios para a história dos impressos em Sergipe. 2006. 209 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2006. 

Cartas à Maruim. Universidade Federal de Sergipe. Núcleo de Cultura Alemã em Sergipe. 1991.

Outras Fontes:






| Hefraim Andrade nasceu em Aracaju em 1991, membro duma família oriunda da cidade de Riachuelo - SE e de origem judaico-sefardí, que mudara-se para Maruim nos anos 70. É ativista em defesa de Israel e dos Direitos Humanos Universais. Ocupa a cadeira de número dois da Academia Maruinense de Letras e Artes - AMLA. Também Faz parte do Cumbuka Coletivo Cultural, - Grupo apartidário que vem promovendo eventos socioculturas  e de incentivo à sustentabilidade no município.  Quanto a sua vida na escrita, ela começa na sua infância e passa por sua adolescência e juventude, quando fez parte de eventos de caráter poético e estende-se até os dias atuas indo da sátira ao que se pode entender, por ele mesmo por "formal". | 

Nenhum comentário:

Postar um comentário