Foto: Acervo Hefraim Andrade |
OUTRA ELEGIA
Fui até um dos braços do rio
-A parte bonita, que brilhando,
Dava seu grito, já um assobio,
-O riacho estava agonizando!
Desci à mãe, o Ganhamoroba,
E não custou para ver o desleixo:
Devastação imoral, lixo de sobra.
E diz o homem: “Assim eu deixo!”.
Subi, então, para a praça.
- “Praça?!”; “Pra onde a levaram?!”.
-Para onde também foi a graça
E nem faces pasmas nos restaram!
Não! - Não pode ser desse jeito!
Não estamos pedindo nenhum favor!
Não digam-nos “Está tudo direito!”
Depois de tudo o que nos deixou!
-Minha avó estava muito doente.
Minha avó, que de Riachuelo migrou,
Que após virar cidadã maruinense,
Direito a saúde o hospital lhe negou!
Veio a morrer, veio a partir,
No caminho de outra cidade.
E inda querem ver-me a sorrir?!
Difícil é sorrir de verdade!
Nem subirei ao hospital para dizer
Aqui o que devemos sentir,
O povo mesmo está cansado de ver,
Cansado de buscar, cansado de ouvir!
“Dia cinco, o que comemorarei?!”
-É o desabafo da própria população.
Bem… Perguntar-vos ei:
Qual é o “dia” da emancipação?!
Por fim, fui ver a mim mesmo
E não vi si quer um pingo de alegria.
E de novo com um cálice de desgosto,
Distante, escrevi mais esta elegia!
ANDRADE, Hefraim.
01/05/2018
Nota: A elegia é um gênero
poético caracterizado mais pela temática do que por uma estrutura formal: tem
como assuntos principais a tristeza dos amores interrompidos pela morte ou pela
infidelidade; É um poema triste.
| Hefraim V. Andrade nasceu em Aracaju em 1991, membro duma família oriunda da cidade de Riachuelo - SE e de origem judaico-sefardí, que mudara-se para Maruim nos anos 70. É ativista em defesa de Israel e dos Direitos Humanos Universais. Ocupa a cadeira de número dois da Academia Maruinense de Letras e Artes - AMLA. Também Faz parte do Cumbuka Coletivo Cultural, - Grupo apartidário que vem promovendo eventos socioculturas e de incentivo à sustentabilidade no Município. Quanto a sua vida na escrita, ela começa na sua infância e passa por sua adolescência e juventude, quando fez parte de eventos de caráter poético e estende-se até os dias atuas indo da sátira ao que se pode entender, por ele mesmo por "formal". |
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