No próximo mês, boa parte dos brasileiros, dentre os quais
destaco os maruinenses, votarão naqueles que os representarão no governo do
país. Entretanto, o que talvez ignoram, é que muitos desses representantes que
haverão de eleger, podem ser descendentes de uma linhagem de políticos que
insiste em perpetuar-se no poder. São eles, as novas faces de uma tradição, que
infelizmente é tolerada, sabe-se lá o porquê, por uma grande maioria.
Foto | Blog Ivanildo Souza |
A prática da transferência do poder é muito antiga nesse
mundo, e no que refere-se ao Brasil, iniciou-se com a implantação das Capitanias
Hereditárias – uma forma de administração do território colonial português
na América – faixas de terra divididas entre integrantes da baixa nobreza
portuguesa e passadas de forma hereditária. Vale salientar que estes
“donatários”, como eram chamados, controlavam basicamente tudo: a escravização
dos nativos, a aplicação da justiça, penas e o recolhimento dos impostos. Além
de que, lucravam com isso.
No Brasil dos dias atuais, dando ênfase ao Nordeste, não é
nada incomum ver, de modo contínuo, sobrenomes repetindo-se campanha após
campanha ao decorrer dos anos – Joãozinho da Caçanha, Ricardo da Caçanha,
Andréa da Caçanha… Ou ainda: Pedro de Joãozinho (que teve carreira política),
Jorge filho de Carlos, - Todos políticos. Dando-nos a entender que ocupar um
cargo público virou um costume e pior, uma indiscreta espécie de monarquia
dentro de uma república?
Segundo uma publicação do O Globo, de setembro de
2012, das 26 Câmaras de capitais pesquisadas, somente Palmas não tinha um
parente político na legislatura que estava terminando. Também, segundo o que
escreveu o jornalista Edson Sardinha, do Congressoemfoco, em agosto de
2017, os deputados com parentes na política eram maioria em 21 bancadas, e que,
os maiores partidos, PSD (78%), o PTB (76%), o PDT (74%), o PMDB (70%), foram
os que mais reproduziram a prática nessa legislatura. No entanto, o que mais
surpreende é um caso incrível que teve ênfase na sequência da publicação, a de
que, em Minas Gerais, houve o maior caso de
longevidade familiar de que se tem notícia no Parlamento de um país
democrático. Segundo o emissor da notícia, o deputado Bonifácio de Andrada (87
anos), que está em seu décimo mandato, representa a quinta geração de um clã
que começou a trajetória parlamentar em 1821, ainda nas Cortes Portuguesas, em
Lisboa. Ou seja, vem duma família que está no poder há exatos 196 anos.
É surpreendente como um costume
rechaçado por alguns, porém, inegavelmente consentido, já que esses homens e
mulheres foram e são eleitos por voto popular, prosperou e ainda prospera
tanto. Se é por ignorância, medo ou quiçá por conveniência que a grande parte
de nossa pátria aceita isso, resta a dúvida. Contudo, enquanto não houver um
posicionamento firme e disposto a enfrentá-lo, viveremos sem mudanças.
Habitaremos às sombras de modernas Capitanias Hereditárias, onde a elaboração
das leis, a aplicação da justiça, a saúde, a educação, a cultura, o esporte,
entre outros, serão administrados e encabeçados somente por um grupo, não
restando espaço para pessoas e partidos novos, para novas propostas.
Assim, caso não tenhamos essa
consciência na hora em que estivermos diante das urnas, momento decisivo que
definirá aqueles que gerenciarão o governo nos próximos anos, estaremos
fadados, mais uma vez, a um círculo vicioso, de poucos, que, como disse a
princípio, é tolerado, sabe-se lá o porquê, por uma grande maioria.
- Até semana que vem.
| Hefraim Andrade nasceu em Aracaju em 1991, membro duma
família oriunda da cidade de Riachuelo - SE e de origem judaico-sefardí, que
mudara-se para Maruim nos anos 70. É ativista em defesa de Israel e dos
Direitos Humanos Universais. Ocupa a cadeira de número dois da Academia
Maruinense de Letras e Artes - AMLA. Também Faz parte do Cumbuka Coletivo
Cultural, - Grupo apartidário que vem promovendo eventos socioculturas e
de incentivo à sustentabilidade no município. Quanto a sua vida na escrita,
ela começa na sua infância e passa por sua adolescência e juventude, quando fez
parte de eventos de caráter poético e estende-se até os dias atuas indo da
sátira ao que se pode entender, por ele mesmo por "formal". |
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