“La vida dó por el
raki!
No puedo yo
desharlo!
De bever nunka me
arti,
De tanto amarlo!”.
-Como bom judeu e pertencente a uma das melhores etnias
possíveis, não poderia, de forma alguma, falar dum tema como este sem citar “La
vida dó por el raki”. Esta canção é muito popular entre a comunidade judaica
dos Bálcãs, uma canção que fala sobre um homem boracho/bêbado, inscrita
e cantada numa língua muito antiga. E é justamente usando-a como prelúdio, que
darei início a viagem desta terça-feira. Desde já, desejo-vos uma boa
terça-feira e leitura.
Antigo bar do Eron | Foto: Acervo Hefraim Andrade |
-Bares, furnas um açougue e vários cabarés foram os palácios
dos meus mestres—Mas não eram quaisquer estabelecimentos! Na época na qual existiam,
eram os locais mais frequentados pela sociedade maruinense depois dos estádios
de football, na minha opinião. - Dificilmente, um bom cidadão, na
ótica local, iniciaria seu dia sem tomar um trago ou uma “dose” nos
tradicionais botecos que estavam espalhados pela cidade, dentre os quais,
destaco o pai de todos eles, - o “Bumba”, - um conhecido alambique que
fabricava cachaça, vinagre e o famoso vinho de jenipapo.
Não posso negar que cheguei a conhecer Maruim através dos
seguintes locais: Das “bodegas” e do Gabinete de Leitura de Maruim. Mas, no que
tange às “bodegas”, conhecia-as muito bem! Conheci bem seus donos, como os
saudosos Jaime, Zé Aércio (da família dos Rêgo) e senhor Bó. Conheci e ainda conheço os senhores Eron, Dídimo, Baixinho e Chopp. Também conheci muitos
frequentadores desses locais como o finado Del, Castelinho,
Boca vermelha; além de muitos outros, os quais, se elencasse aqui,
formariam uma epopeia tal como Os Lusíadas ou quem sabe a Odisseia, de Homero
(rsrsrsrsr).
Bar do Jaime, no Pátio da Feira | Foto: Acervo Hefraim Andrade |
Minha vida nos bares começou cedo; logo após nascer. Saibais
que naquele tempo, o filho de um boêmio era querido e conhecido pelos outros
boêmios. -Muitas pessoas passavam a mão sobre a minha cabeça quando viam-me.
Pagavam-me refrigerantes e doces e ficavam falando o tempo todo (nunca
sóbrios), vez e outra SEM COMEDIMENTO ALGUM, sobre seus conhecimentos da vida e
sobre os seus valores (do jeito como concebiam-lhes, é claro!) Mas, por que eu
era tão conhecido assim?! -Ai vem a explicação: Ninguém nunca ia apenas num
único estabelecimento tomar cachaça, uma vez que este costume era e é ainda
quase uma religião aqui, tal com fazer a peregrinação até Meka
(rsrsrsrsrsrsrsrs). Porém, ser conhecido tinha lá suas vantagens e
desvantagens, como: sempre ser ajudado, socorrido e defendido, bem como nunca
ter privacidade para fazer absolutamente nada em solo maruinense, pois, assim
que era avistado numa rua, chamavam-me pelo meu apelido (eu tinha um
apelido/alcunha – meu nome de batismo nos bares. -Vez e outra ainda ouço-o nos
lábios de algum sobrevivente do período) e perguntavam-me para aonde estava
indo e, como sempre, não demorava muito para que minha família ficasse sabendo
por onde havia passado.
Naquele tempo, através do olfato, experimentei o cheiro
fortíssimo do vinagre, que vinha do Bumba, das várias cachaças
artesanais, do cheiro desagradável da cerveja espalhada sobre a mesa, dos
tira-gostos (queijos e presunto ou fiambre; em cubos). O cheiro da Soda
Limonada ou do guaraná cuja marca também chamava-se “Guaraná”, que tomava. Das
balas de leite, dos chocolates com laranja, -guloseimas que destacavam-se
dentro dos antigos baleiros. Na totalidade, todos estes detalhes eram
primordiais para compôr a atmosfera dum boteco da primeira metade dos anos
noventa.
Por hora é só até aqui, leitores. Esta foi apenas a
introdução da viagem a qual faremos aos vários bares e botecos daqui de Maruim.
No decorrer das próximas viagens, contarei muito mais histórias, além de
pequenas descrições sobre seus proprietários; lembranças que valem a pena serem
recordadas e lidas.
Até a próxima.
| Hefraim V. Andrade nasceu em Aracaju em 1991, membro duma família oriunda da cidade de Riachuelo - SE e de origem judaico-sefardí, que mudara-se para Maruim nos anos 70. É ativista em defesa de Israel e dos Direitos Humanos Universais. Ocupa a cadeira de número dois da Academia Maruinense de Letras e Artes - AMLA. Também Faz parte do Cumbuka Coletivo Cultural, - Grupo apartidário que vem promovendo eventos socioculturas e de incentivo à sustentabilidade no Município. Quanto a sua vida na escrita, ela começa na sua infância e passa por sua adolescência e juventude, quando fez parte de eventos de caráter poético e estende-se até os dias atuas indo da sátira ao que se pode entender, por ele mesmo por "formal". |
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