5 de junho de 2018

Viagens por Maruim: Os velhos bares e botecos – Parte III | Por Hefraim Andrade

Olá, pessoal! Tudo bem?! Infelizmente não pude publicar este texto na terça-feira passada por conta de alguns problemas técnicos, afinal, quem não tem problemas hoje em dia, não é mesmo?! Mas ponhamos os problemas de lado, pois, quero dar continuidade às nossas viagens pelos Velhos Bares e Botecos.

O BAR DO JAIME

- “É o mesmo que não haver nada! É o mesmo que só haver paredes grossas erguidas!”- Escrevi. 

Sr. Jaime no centro da foto, acompanhado de amigos | Foto: Acervo da família
Eu estive lá há algumas semanas e, sinceramente, para quem conheceu bem aquele boteco, é duro não ver mais o senhor Jaime ali! É como se parte da nossa existência tivesse sido furtada! O que leva-me a crer, em caráter particular, que filosoficamente, parte da nossa existência, pode estar contida na vida de outrem! Na vida de muitos outros seres, como animais e árvores (Ou quem sabe, nas mudas das árvores, nativas da Mata Atlântica, que foram CRIMINOSAMENTE arrancadas no Parque Otto Schramm, dias após terem sido plantadas, numa atividade do Cumbuka Coletivo Cultural, em 2017). O fato é, que nós, que convivemos com ele e com tantas outras pessoas, figuras, “peças raras” e personalidades, nos anos noventa, e no início dos anos dois mil, vivemos numa Maruim contemporânea, que é estranha para nós! Tenho consciência de que as coisas mudam e que precisam mudar. No entanto, ao perguntarem-me, hoje, o motivo de apreciar mais aquele tempo do que a este, a resposta é óbvia e direta: Havia mais respeito e menos insegurança; as crianças tinham mais liberdade às ruas; não haviam tantos motoristas e motociclistas irresponsáveis, que só faltam pisar-nos, enquanto pacificamente andamos. Isto, somando-se ao fato de que muitas das leis de trânsito aqui não vigoram, e pior ainda: Também quase não há quem a tudo isso fiscalize! Precisamos, urgentemente, de ordem, de mais ética e de justiça, não é assim?! Exato! Precisamos, sim, delas! Entretanto, precisamos, além destas, de gentileza uns para com os outros! Falta-nos Gentileza!

Ruínas da primeira sede do bar do Jaime| Foto: Acervo Hefraim Andrade 


Gentileza… É assim que podemos definir, em uma só palavra, na minha perspectiva, o senhor Jaime de Sousa Santana, que faria, neste ano, 66 anos. Eu o conheci no seu bar, que ficava ao fundo da casa do senhor “Geninho”, aqui na Rua da Cancela, num antigo prédio de esquina (no lugar onde funcionou o bar 24 horas). - Dele, hoje, só resta algumas paredes de pedra e tijolos. A memória mais remota que tenho é de um globo que lá havia, que continha bolas de bingo, o qual, assim que entrava no recinto, procurava mexer, por curiosidade. Com o tempo, o seu comércio acabaria mudando-se, para o local onde está a Casa Lotérica, ou Loterias Rafaela, na Avenida Horácio Martins (Um irmão iluminado e de bons ideais), e, por último, estabelecendo-se na Praça da Feira, ao lado esquerdo do Trapiche (armazém onde são estocadas mercadorias destinadas à importação ou à exportação; armazém-geral.) o que foi erguido a mando do Barão de Maruim e que fica de frente ao Talho de Carne. Neste novo endereço, também fui muito frequente. Ali ouvi e vi muitos desabafos, por parte dos ébrios, e brinquei com a mesa de sinuca e com seus utensílios. - Acreditam, que, em recente visita ao prédio, ainda da família, porém sob nova direção, pude ver que ainda estão lá: a mesa de bilhar, os tacos, as esferas coloridas e alguns engradados que pertenciam-lhe?! Também visitei a casa de sua família e inteirei-me de que, após o seu falecimento, um de seus filhos, assumiu os negócios temporariamente e depois, assumiu-lhes sua viúva.

Sr. Jaime, ao lado direito da foto | Foto: Acervo da família 
Bem. Eu disse, a princípio, que penso que parte da nossa existência pode estar contida na vida de outra (as) pessoa (as) ou ser (es), e acho que de todo não estava errado, uma vez que a vida do senhor Jaime está contida na memória de muitos e inclusive na vida de seu filho, “Jaiminho”, o qual sempre cumprimenta-me e faz questão de falar comigo; ao vê-lo, sempre revejo seu pai! Toda gentileza do senhor Jaime – todo o seu bom trato, são boas lembranças! E também não poderia, “de modo algum”, finalizar esta viagem sem fazer menção a uma antiga frase, que já não é ouvida às kayes (ruas) maruinenses; frase outrora tão apreciada pelos “amantes dos destilados e fermentados” (rsrsrsrsrr): “Vou ali ‘tomar uma’ em Jaime”!

Sede atual do bar do Jaime | Foto: Acervo Hefraim Andrade 
Desde já, dou meus comprimentos e gratidão à sua viúva, dona Miriam Celeste Matos Santana e a seus dois filhos.  - A história de Maruim não pode ser escrita sem o senhor Jaime e seu bar insertos nela!



Hefraim V. Andrade nasceu em Aracaju em 1991, membro duma família oriunda da cidade de Riachuelo - SE e de origem judaico-sefardí, que mudara-se para Maruim nos anos 70. É ativista em defesa de Israel e dos Direitos Humanos Universais. Ocupa a cadeira de número dois da Academia Maruinense de Letras e Artes - AMLA. Também Faz parte do Cumbuka Coletivo Cultural, - Grupo apartidário que vem promovendo eventos socioculturas  e de incentivo à sustentabilidade no Município.  Quanto a sua vida na escrita, ela começa na sua infância e passa por sua adolescência e juventude, quando fez parte de eventos de caráter poético e estende-se até os dias atuas indo da sátira ao que se pode entender, por ele mesmo por "formal". | 

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