27 de março de 2018

Viagens por Maruim - Qual será o destino das nossas Ruas de Pedra? | Por Hefraim Andrade

Foto: Acervo Hefraim Andrade

Testemunhas dum tempo em que Maruim chamava atenção em Sergipe pela produção açucareira, as velhas Ruas de pedra, pelas quais transitou a sociedade maruinense do século XIX, e que chegaram a ser pisadas por inúmeros estrangeiros e até por Suas Majestades Imperiais D. Pedro II e D. Teresa Cristina  de Bourbon-Duas Sicílias aguardam, nos dias atuais, um destino incerto.

Não podemos hoje, vindo do colégio Sabino Ribeiro e passando pelo prédio onde outrora funcionou o bar do senhor Bó, deixar de notar as inúmeras pedras, grandes e pequenas, que estendem-se por quase toda a Rua da Cancela (atual General Siqueira. - Particularmente não aprecio essa nomenclatura. Em fim...), e que também compõem a rua que fica à frente do Parque Público Otto Schramm; há também a recente descoberta: Nas obras inconclusas da Praça Barão de Maruim, ao tirar-lhe o calçamento central, apareceu um antigo chão feito com as mesmas pedras! - Creio que não imaginais a surpresa que tive! Passei dias sem sossego por conta disso! - Interessante é que a pedra em si, fora o material base de quase todas as casas antigas da Maruim dos anos 1800! Não é difícil de percebê-lo, basta seguir pela Rua Dr. Alcides Pereira e ver as ruínas do grande sobrado de coloração amarela, que pertencia ao senhor João Rodrigues da Cruz, ou seguir mais adiante até a Rua Nova. - Essas pedras embelezam Maruim! São marcos! São provas vivas de tudo o que lemos algum dia nos livros de Joel Macieira Aguiar, Lúcia Marques, Gilvan Rosa, Cléa Brandão, e nos trabalhos dos professores Dênio Azevedo e Adailton Andrade! Creiam-me ou não, ficaríamos, sem dúvida, loucos, se parássemos para pensar sobre quantas pessoas pisaram sobre elas, sobre quem essas pessoas eram… Sobre quantos estrangeiros: alemães, ingleses, franceses, italianos, etc., caminharam por sobre elas.

Foto: Acervo Hefraim Andrade

Segundo AGUIAR, Com a visita de Dom Pedro de Alcântara, de sua Real Consorte e comitiva, em 14 de janeiro de 1860, fora construído, sob as ordens do chefe do Executivo, o comendador Manoel de Sousa Macieira, um cais de alvenaria para recepcioná-los e também foram calçadas algumas ruas com pedras calcárias brutas. Todavia, analisando alguns contextos, fica subentendido que já havia alguns pisos de pedra na cidade antes disso, por exemplo, o chão da garagem do Galpão da Rua Nova (atual sec. de Obras). Na Praça da Bandeira, onde dantes ficava o nosso centenário Tamarineiro, havia um chão rochoso único e lindo de se ver! - Constantemente ia a aquele local, uma vez que, quando criança, deixavam-me aos cuidados duma família que ainda hoje mora às proximidades! O local nunca deixou a minha mente! - Cresci num tempo e mundo antigos! - Como pesa-me saber que hoje esse calçamento está extinto, o governo municipal substituiu-o por paralelepípedos. Segundo um morador local, o qual entrevistei, as obras iniciaram-se após a queda do Tamarineiro, e que também aproveitaram algumas pedras arrancadas da antiga Praça para construir o novo cais. Poucas delas inda podem ser vistas empilhadas, aos arredores. 

Foto: Acervo Hefraim Andrade

A problemática das Ruas de pedra, não é nova, e o fato de não terem sido tombadas prejudicou sua conservação. O calçadão da Feira e a Rua do Açougue (José Quintiliano da Fonseca) Foram cobertos com o asfalto. Sem contar com a Rua do Correio (Barão do Rio Branco), que fora substituída primeiramente por paralelepípedos e depois pelo asfalto. O ano passado cheguei a fazer algumas manifestações nas redes sociais, indignado porque, quando o serviço público tentava “reparar” às ruas de pedra, após tirá-las do lugar, reinserindo-as, acabavam por deixar algumas delas de fora, que findam sumindo e sabem os céus aonde iam parar! - Ou literalmente seguiam acimentando o pavimento, cobrindo progressivamente algumas rochas deixando deformações nas calles (do espanhol “ruas”). Ações do tipo revoltam-me muito! Algumas poucas pessoas chegam até a dizer que “dever-se-ia asfaltar toda a cidade e tchau!”. Entretanto, a classe da melhor idade sustenta, às vezes como que sonhando com toda a sua carga de vida, sua importância histórica. Vejo em Maruim crianças brincarem nessas ruas, mirando-as curiosas... Outra coisa é que se a desculpa para cobrir as nossas ruas de pedra com asfalto for melhorar a mobilidade, pode-se muito bem reassentá-las e aplainá-las, bastando para isso vontade, amor e dedicação! Porventura não diz o ditado popular, bem difundido pelos maruinenses: “Quando alguém quer consegue!”?! 

Foto: Acervo Hefraim Andrade

As testemunhas da glória de um pequeno grande município sergipano, além de tantos outros acontecimentos de repercussão nacional e internacional, sofrem hoje com o desdém, com o desconhecimento e com a falta de reconhecimento… Só posso escrever que, frente a tudo isso, entendo ser impossível furtar-me a pergunta: Qual será o destino das nossas Ruas de Pedra?! 

Foto: Acervo Hefraim Andrade

Fontes:

AGUIAR, Joel. Traços da História de Maruim. 2° Edição. Aracaju. 2004

CRUZ E SILVA, Maria Lúcia Marques. Inventário Cultural de Maruim: Edição comemorativa aos 140 anos de emancipação política da cidade. Aracaju, 1994.

https://www.infoescola.com/historia/historia-de-sergipe/

http://www.agencia.se.gov.br/noticias/governo/emancipacao-politica-sergipe-completa-195-anos-de-independencia 


| Hefraim V. Andrade nasceu em em Aracaju em 1991, membro duma família oriunda da cidade de Riachuelo - SE e de origem judaico-sefardí, que mudara-se para Maruim nos anos 70. É ativista em defesa de Israel e dos Direitos Humanos Universais. Ocupa a cadeira de número dois da Academia Maruinense de Letras e Artes - AMLA. Também Faz parte do Cumbuka Coletivo Cultural, - Grupo apartidário que vem promovendo eventos socioculturas  e de incentivo à sustentabilidade no Município.  Quanto a sua vida na escrita, ela começa na sua infância e passa por sua adolescência e juventude, quando fez parte de eventos de caráter poético e estende-se até os dias atuas indo da sátira ao que se pode entender, por ele mesmo por "formal". | 


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