2 de janeiro de 2014

Esquecido, o Gabinete de Leitura de Maruim sobrevive

O mundo hoje passa por profundas transformações e de forma cada vez mais rápida, com a correria da vida quase não se tem tempo para ler, seja um jornal, uma revista, ou livros. Somos tomados por novas tecnologias que nos aprisiona cada vez mais a uma vida fácil, quem não se habituar fica literalmente para trás, é notável o quanto se perdeu em quantidade à busca pela leitura e pesquisa numa biblioteca, a começar pelas escolas que não habituam mais seus alunos a frequenta-las e sim a pesquisas rápidas ou a trabalhos prontos que na maioria das vezes o aluno também encontra na internet. 

Em Maruim, por exemplo, o Gabinete de Leitura que foi palco de grandes oradores como Tobias Barreto, Fausto Cardoso, e entre outros nomes da história de Sergipe continua mostrando sobrevivência, ultimamente além dos estudantes que em número reduzido continua frequentando, historiadores e acadêmicos de Sergipe tem pesquisado a fundo a história da cidade que já foi berço do comércio sergipano. 


Um dos historiadores pesquisa a fundo sobre a vida do alemão  Otto Schramm o grande responsável pela criação do Gabinete de Leitura de Maruim em 1877, uma instituição privada, veiculadora dos ideais liberais, abolicionistas e republicanos na época, e que se firmou pela necessidade em difundir a ideia de civilização, marcada pela instrução de um povo nas artes e na ciência. Permitindo assim a circulação de novas ideias e valores, e a difusão de obras literárias e artísticas, trazendo prosperidade moral e material para a sociedade; assim a civilização seria capaz de esclarecer o espírito, e conceder o bem estar. 

O Gabinete de Leitura de Maruim é guardiã da história e memória do povo sergipano. Contêm acervos históricos vivos da cidade e também de Sergipe, tanto enquanto Província do Império, como em Estado da Federação. 

No final do século XIX constava no catálogo do gabinete vários livros, obras normalmente editadas em Paris, Bruxelas e Lisboa como: Voltaire (1860), Rousseau (1857), Júlio Verne (1878), Michelet (1863), Balzac (1863), M. A. Thiers (1862) com a sua “História da Revolução Francesa”, Antônio Feliciano de Castilho (1863) em “Camões: estudo histórico e poético”, Frédéric Soulie (1852) com “Le Veau d’or”, I. F. da Silva e L. A. Rebello da Silva (1853) em “Poesias de Manuel Maria de Barbosa du Bocage”, Sebastião da Rocha Pitta (1880) “História da América Portugueza”, Visconde de Taunay (1896) com “Innocencia”.  


Polêmica 

Em 11 de Fevereiro de 2009, a historiadora de Minas Gerais, Cristiane Maria Magalhães, esteve em Maruim para fazer uma pesquisa de campo, mas, quando chegou ao prédio se deparou com a agência da Caixa Econômica Federal instalada dentro do Gabinete de Leitura, o que causou revolta naquele ano a historiadora mineira fazendo-a externar no seu Blog Palimpsesto Colecionadora de Palavras. Naquela época, o prédio foi cedido pelo Governo Municipal, depois de uma das enchentes que a cidade enfrentou que invadiu a sede do banco destruindo toda sua estrutura, localizada no calçadão da cidade. A historiadora denunciou o péssimo estado de acondicionamento e conservação do acervo, e também a falta de um catálogo descritivo de identificação dos livros. 

Por outro lado 

Após a saída da Caixa Econômica Federal, e o fechamento do Gabinete para reforma e em seguida sua reinauguração em 2010, tudo voltou ao normal. Em 2013, o Gabinete de Leitura completou 136 anos, uma programação dedicada à cultura e resgate da história foi apresentada pela administração atual. Séries de visitas à cidade de Maruim vêm acontecendo, a última ocorreu em 20 de Novembro quando estudantes da UFS, passaram uma manhã explorando os prédios que fazem parte da história da cidade, a busca foi por informações da propriedade canavieira e do núcleo de povoamento na região do Cotinguiba. O relatório da viagem você confere no Blog Amigos São Como Diamantes de uma das acadêmicas de história. 

Curiosidades 

*Em 1º de outubro de 1919, através do Decreto nº 3.776, assinado pelo presidente da República, Epitácio Pessoa, O Gabinete de Leitura de Maruim foi reconhecido como Utilidade Pública Federal. Desde 1992, o Gabinete de Leitura foi municipalizado pelo então prefeito de Maruim, Murilo Mota de Oliveira.   

*Cerca de 1700 livros foram doados pela Biblioteca Nacional, com sede no Rio de Janeiro e com isso houve uma ampliação no acervo desde sua reinauguração em 2010. Os livros doados pela Biblioteca Nacional foram catalogados por uma equipe especializada no mesmo ano.  



Por Lohan Muller 

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