10 de abril de 2018

Viagens Por Maruim – A busca pela Liberdade | Por Hefraim Andrade


A busca pela Liberdade, sempre idealizada por muitos povos através do tempo, tornou-se fator indispensável na formação de Maruim. Também, o grau de importância que davam-lhe fora medido pelo preço que alguns do passado pagaram em nome deste ideal. Porém, nem sempre ser maruinense hoje é sinônimo de ser livre e o “ser livre” nem sempre é bem-visto.

Para começar, quero expor uma frase encontrada no índice de temas do Inventário Cultural de Maruim, - segundo livro de maior importância na cidade após o livro de Joel Macieira Aguiar:

“Capítulo 4 – Prosperar em terra alheia deu confusão.”. - Jogada no contexto, esta afirmação refere-se aos processos que culminariam na elevação de Maruim a Vila (povoação de categoria superior a termo e inferior a cidade.). (CRUZ E SILVA) – O que significaria independência da Vila de Santo Amaro das Brotas.

Maruim, na segunda metade dos anos 1800, começaria a experimentar um pouco da Liberdade Econômica e o seu novo status de “cosmopolita” trouxe as diferenças necessárias para formação duma identidade não mais pautada pelo domínio arbitrário da Igreja católica, que tempos atrás massacrou inúmeros seres humanos usando de meios como a instituição macabra da Santa Inquisição. Agora tínhamos isto no Império Brasileiro: Um Imperador maçom que permitia a Liberdade de imprensa, constantes avanços tecnológicos e autonomia em relação a Roma. Em Maruim tínhamos tendência ao progresso, oriundo da cana-de-açúcar, cidadãos de credos e nacionalidades diferentes e principalmente com pensamentos políticos e filosóficos divergentes. Um local com este que possuía cerca de sete consulados para representar interesses estrangeiros em Sergipe não poderia ser mais tendencioso ao progresso, não é mesmo? 

Buscar a Liberdade nunca foi tarefa fácil e o símbolo máximo desta Liberdade, aqui no século XIX chamava-se e ainda chama-se Gabinete de Leitura, fundado em 19 de agosto de 1877. – Visitem-no ali na Praça Barão de Maruim, S/N, no centro da cidade. Era uma agremiação particular de intelectuais, com sua maioria ligada a ideais progressistas, maçônicos, abolicionistas e republicanos. Era uma sociedade mista: Havia nela cristãos católicos e protestantes e mesmo judeus. Possuía livros “condenados” e listados até no Index Librorum Prohibitorum, como os livros de Voltaire, Rousseau, Montesquieu, etc. Os ataques contra ela e mesmo contra a sociedade mais livre, por assim dizer, eram constantes. A Igreja já havia deixado claro o que pensava desses movimentos e da maçonaria através de declarações públicas ou mesmo através de bulas pontifícias. A intolerância em relação às diferentes crenças e pensamentos eram uma constante, como podemos ver na seguinte asserção: “Procurei prudentemente enfraquecer a maçonaria, em favor da Religião Católica, da qual sou ministro. (Padre Leionardo da S. Dantas. Maruim. 1896.) Houve, em outro contexto, a transferência do senhor Nogueira Cravo, redator da Revista Literária da mesma instituição, por perseguição política. (CRUZ E SILVA) – Vejam também o meu trabalho - A Contribuição Maçônica I e II para entenderem melhor.


Na sociedade maruinense atual, a questão “Busca Pela Liberdade” é ampla: Vemos por um bom crivo, por exemplo, o surgimento de vários movimentos afro que têm esforçado-se para ter o seu lugar e um deles com representação até na França. Vemos a realidade de escolas que já não seguem os velhos padrões confessionais que outrora oprimiam a pluralidade existente. A chegada de movimentos culturais que promovem festas diferentes e alternativas como BAM Produções e mesmo o Cumbuca Coletivo Cultural, que têm, de certa forma, apresentado à provinciana Maruim novas tendências musicais, culturais e artísticas. Entretanto, isto não significa que estamos de todo livres dos ataques provenientes da ignorância política ou religiosa, herdadas do coronelismo e da hegemônica Roma do passado, uma vez que há diversos relatos de pessoas atacadas apenas por trazerem a luz conceitos como: “Não sou obrigado a aceitar” ou “Não sou obrigado a acreditar”, ou mesmo conceitos vindos da Revolução Francesa que vão de encontro aos abusos governamentais e que fomentam que a autoridade pode e deve ser questionada. - Eu mesmo, uma vítima de ambos os sistemas, afirmo veementemente que é mais fácil perseguir alguém do que assumir e reparar seu próprio erro! O que prova que ser maruinense nem sempre quer dizer ser livre, pois ser livre requer trabalho duro e não virá geneticamente, pois cada geração deve seguir em busca da sua Liberdade! Não pensem também que o ser livre é mais fácil! Infelizmente ainda é um sacrifício diário para não sermos subjugados aqui; seja na moda, nos costumes, na religião, no pensamento filosófico, etc. 

Concluo afirmando que a busca pela Liberdade, mesmo custosa, pode ser alcançada sim,e Maruim não está distante desta. Os maruinenses têm um potencial incrível e têm tudo para mudar sua realidade. Lembremos, pois, do nosso Hino, composto por Roberto Becker e Wilson Dias de Mattos (o Alemão), - avó do meu amigo Alberth, para servir de conforto e estímulo:  “E na sua juventude inteligente está presente o futuro brasileiro.”.

Até a próxima.

Fontes: 

CRUZ E SILVA, Maria Lúcia Marques. Inventário Cultural de Maruim. Edição comemorativa aos 140 anos de Emancipação Política da cidade. Aracaju: Secretaria Especial de Cultura, 1994.

CRUZ E SILVA, Maria Lucia Marques. Revista Literária do Gabinete de Leitura de Maroim (1890-1891): subsídios para a história dos impressos em Sergipe. São Cristóvão. 2006.

https://www.infoescola.com/cristianismo/index-librorum-prohibitorum/ 


| Hefraim V. Andrade nasceu em Aracaju em 1991, membro duma família oriunda da cidade de Riachuelo - SE e de origem judaico-sefardí, que mudara-se para Maruim nos anos 70. É ativista em defesa de Israel e dos Direitos Humanos Universais. Ocupa a cadeira de número dois da Academia Maruinense de Letras e Artes - AMLA. Também Faz parte do Cumbuka Coletivo Cultural, - Grupo apartidário que vem promovendo eventos socioculturas  e de incentivo à sustentabilidade no Município.  Quanto a sua vida na escrita, ela começa na sua infância e passa por sua adolescência e juventude, quando fez parte de eventos de caráter poético e estende-se até os dias atuas indo da sátira ao que se pode entender, por ele mesmo por "formal". | 




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