11 de março de 2014

Maruim quer fazer parte do roteiro turístico do estado






Se Nosso Senhor dos Passos conseguir mostrar com ainda mais clareza todos os caminhos que devem ser percorridos pela administração do município de Maruim, distante 30 quilômetros da capital, certamente em 2015 a localidade vai estar inserida no roteiro oficial do turismo sergipano, especialmente para os que gostam de praticar o chamado ecoturismo. Mas por que Nosso Senhor dos Passos? É que ele é o santo padroeiro do município e dá nome à igreja Matriz, fundada em 21 de janeiro de 1837 por Dom Romualdo Antônio de Seixas, então arcebispo de Salvador. 

Quesitos religiosos à parte, o fato é que está em desenvolvimento o projeto para a construção de uma orla às margens do rio Sergipe, no povoado Guiomar Dias, distante aproximadamente dez quilômetros da sede municipal. O primeiro projeto, que fora inclusive aprovado pelo Ministério do Turismo, previa a construção apenas de um atracadouro, mas como o local tem capacidade para abrigar algo muito maior e ainda favorecer o desenvolvimento do povoado, que tem aproximadamente 400 moradores, estão sendo somados esforços para refazer o projeto e dar maiores dimensões, como explicou o secretário municipal da Agricultura, Meio Ambiente, Abastecimento e Irrigação, Diego Silva Cardoso. 

Com a ampliação, o povoado Guiomar Dias terá ainda atracadouro, marina e infraestrutura turística, a exemplo de bares e restaurantes, e será realizada a melhoria dos oito quilômetros de acesso ao local, que atualmente é em piçarra. Para que todos os aspectos da região sejam contemplados, montou-se um grupo de pesquisa composto não só por membros das secretarias municipais de Maruim, mas também com integrantes da Universidade Federal de Sergipe, dos Peregrinos (grupo especializado em turismo de aventura); Governo do Estado, através da Secretaria de Estado do Turismo e do Centro da Terra, Grupo Espeleológico de Sergipe, que vai fazer o estudo da gruta Pedra Mole, que, segundo contam as pessoas mais idosas, foi esconderijo de jesuítas. A caverna, como é mais conhecida, fazia ligação entre Maruim e Santo Amaro, mas está sem utilização há alguns anos.

Ainda este mês, toda esta equipe voltará a Maruim para fazer mais estudos, dados que darão base ao novo projeto, para que este seja apresentado em Brasília ainda neste primeiro semestre, período no qual Diego também acredita que as obras devam ser iniciadas. O secretário municipal explica que a ideia de transformar o povoado Guiomar Dias num polo de ecoturismo surgiu na gestão municipal ainda em 2013. 

“Desde então temos empenhado todos os esforços necessários para que tudo que está sendo pensado seja transformado em realidade. Essa orla é algo importante para o município por vários motivos, e um deles é a possibilidade de fazer com que a população do Guiomar Dias fique autossustentável, pois serão capacitados em todas as frentes necessárias para o bom desempenho da localidade”, explicou o secretário, cheio de entusiasmo. O primeiro projeto, ou seja, o do atracadouro, estava orçado em aproximadamente R$ 500 mil. Com todas as modificações que a ampliação do projeto requer, o valor deve duplicar ou um pouco mais que isso. “Mas temos certeza de que conseguiremos esses recursos”, frisou Diego Cardoso.

E, realmente, o local escolhido para ser o novo ponto turístico do município tem mesmo os seus encantos e os dois principais são: a beleza do rio Sergipe e da mata nativa. A paisagem atual lembra muito a de um quadro com natureza. Chega a ser algo que pode ser classificado como bucólico. E quem desfruta de toda a paz e beleza que a área propicia é o aposentado Edson Barreto. Dono de um sítio que fica a poucos metros do rio, é o responsável por abastecer com comida de boa qualidade e bebida quem já descobriu o local como ponto de passeio, seja pela rodovia de piçarra ou pelo rio. Para ele, a construção de uma orla e de infraestrutura turística é tudo o que o povoado necessita.

“Estou ansioso para ver isso tudo acontecer. Vai ser maravilhoso. Se, mesmo sem ser divulgado, tem dias que temos aqui cerca de 40 pessoas que vêm de lancha e jet-ski, imagine depois que o projeto virar realidade?”, questionou Edson, que dos 63 anos de vida, reside há 38 em Maruim, e destes, 27 no Guiomar Dias. No cardápio oferecido aos visitantes estão galinha de capoeira com pirão, camarão pistola criado em viveiros, pitu (em abundância em época de inverno), e muitas espécies de peixe, e tudo isso em porções fartas e preços convidativos.

Voltando à sede da cidade

Mas enquanto a orla de Guiomar Dias não fica pronta, Maruim pode disputar, junto com as cidades históricas mais conhecidas – Laranjeiras e São Cristóvão - a atenção dos turistas que vêm a Sergipe, ou mesmo dos nascidos e criados no Estado. Para tanto, basta apenas uma forcinha do poder municipal em tornar a cidade mais atraente, inclusive no aspecto visual, e é bom que fique claro que esta não é uma crítica de cunho político partidário ou coisa parecida, mas de uma aracajuana que por algumas poucas vezes esteve em Maruim a convite de amigos, mas nunca voltou de lá encantada com que o local possui, como desta última vez. 

Só pra começar a contar a historinha: Maruim foi, na época do império, considerada o empório do Estado, ou seja, tudo o que era necessário à sobrevivência dos sergipanos partia ou passava por lá, até pela facilidade de escoamento que o rio Sergipe oferecia. Abrigou dezenas de centenas de famílias europeias, que deixaram as marcas espalhadas pelo local, embora seja uma pena que alguns dos imóveis erguidos por esses povos não estejam conservados da maneira como mereciam e deveriam. 

Foi sede de vários consulados, a exemplo do alemão e francês, e um dos maruinenses, Max Schramm, chegou a ser prefeito de Hamburgo e senador pela Alemanha. Max nasceu em Maruim e lá viveu até os cinco anos de idade. Voltou à terra natal da família com o pai após a morte da mãe, Adolphine Schramm, em consequência do cólera, em 1863. A casa onde a família viveu, área conhecida na cidade como Parque Otto Schramm, agora é espaço municipal onde funciona um bar/restaurante, mas tudo necessitando de mais cuidados. Existe a proposta de transformar o local no balneário de Maruim, tomara que sim! 

Quase em frente ao parque uma edificação centenária se acaba por causa da ação do tempo e da falta de manutenção. Não é da prefeitura, é uma propriedade particular, mas ninguém, ao que parece, está sendo obrigado a conservar. Conservado também não está o prédio da antiga Secretaria da Educação. Datado do ano de 1902, está fechado e sofrendo a ação do tempo.

O que não está esquecido está precisando de reforma ou restauração, a exemplo da igreja Matriz, aquela do Senhor dos Passos, falada no início da matéria, lembra? Então, uma pintura na área externa já ajudaria e muito, afinal de contas, além de um estilo arquitetônico muito interessante, com traços do barroco, inclusive, e possuindo o relógio da torre vindo da Alemanha – tanto que o número quatro, mesmo em algarismo romano não está grafado como IV, mas IIII, típico da época. Nela estão os restos mortais do Barão do Maruim, morto em 1890 e cujo traslado dos restos, da capital federal para Maruim, ocorreu em 1937. 

Outra coisa que necessita de muita atenção é o gabinete de leitura biblioteca Josias Vieira Dantas, inaugurado em 19 de agosto de 1877 e que tem um acervo riquíssimo. Só para se ter uma ideia, nele estão obras completas de enciclopédias valiosíssimas, de escritores importantes mundialmente, a exemplo do francês Honoré de Balzac e toda a obra da Divina Comédia, do italiano Dante Alighieri. Além destes, obras escritas em diversos idiomas, a exemplo da francesa Consulat at de L’empire- L’historia de la révolution française, livro de 1847.  Mas, mesmo com essas pequenas e urgentes reformas a serem feitas, Maruim – e toda a sua história – é sim um local a ser incluído na lista de pontos a serem visitados. 


Matéria do Jornal da Cidade de Aracaju, 10 de Março de 2014 

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